Começa hoje uma pequena série sobre o Amor em 3 atos, na visão de três crianças apaixonadas.
A cadeira de balanço rangia de frente para a enorme janela. A neta desenhava gotas d’água coloridas no chão enquanto a avó assistia a chuva sem cor envernizar desigual o vidro que dava para o jardim.
– Vó.
(Cadeira nhenc, nhenc).
– Olha as minhas gotas de chuva. Tem de toda cor.
(Nhenc, nhenc).
– Vó, eu sei desenhar o céu, ó.
(Cadeira nhenc, nhenc).
– Eu acho que estou apaixonada, vó.
(Cadeira quieta).
– Por que você fez isso, minha filha?
– Não fui eu não.
A neta desenha um sol amarelo apesar do cinza lá fora.
– E quem foi?
– Foi Ele.
– O dito cujo?
– Não, Ele.
E mostra seu Sol amarelado.
– O que é que um Sol tem a ver com você fazer uma besteira dessas, menina. Eu já disse que se apaixonar é burrice. É confuso demais.
– Tem tudo, vó. Toda vez que o Sol bate nos olhos dele, meu coração gela. Eu acho engraçado. O coração gela e o Sol é quente. Acho que é por isso que a senhora acha o Amor confuso.
E a menina foi brincar no jardim despreocupada. A cadeira continuou quieta.
Clarice Freire.