O Tampa de Crush.

O Tampa de Crush se achava o máximo. Resolvia tudo sozinho, era popular e bonitão.

Um dia, ele conheceu A Bala que Matou Kennedy. Essa já era mais discreta, sabia a hora de entrar nos lugares mas quando entrava, nunca passava despercebida, sempre causava alvoroço.

Ele achou que ela era a tampa da sua panela: tão boa quanto ele, assim tão importante. Logo na primeira saída se apaixonaram perdidamente. Mas logo também na primeira saída perceberam um problema terrível.

Tantas qualidades de ambos nunca cabiam em um só lugar. Era informação demais. Eram virtudes demais, beleza demais e o carro não comportava, nem o cinema, nem o estádio de futebol, nem sequer as ruas da cidade.

O Tampa de Crush se entristeceu ao ver que A Bala que Matou Kennedy chorava desconsolada quando terminaram. Decidiram não mais estar “em um relacionamento sério”.

O tempo passou e o Tampa de Crush nunca encontrava ninguém pra ele. Era só em seus próprios reflexos no espelho, ria-se de si mesmo em suas piadas geniais, maravilhava-se a si e mesmo com suas histórias incríveis, não havia motivo para tristeza em tê-lo assim, só para si.

Só uma: ninguém pra curtir, compartilhar, seguir ou dar aquela cutucada de vez em quando. De que servia então, assim, ser ele aquele que é?

Em um dia de sol, Tampa de Crush resolveu ir à praia, pegar uma corzinha e ali, à primeira vista, se apaixonou novamente. Era ela. Mais que o suficiente pra ele. Na verdade, perto dela, ele começava a se sentir um ninguém, pequeno, minúsculo, insignificante. Era desesperador para o Tampa e Crush, que nunca havia se sentido assim antes por ninguém. Tentava chamar sua atenção mas não via como, era grande demais perfeita demais, famosa, a única.

A última Coca-Cola do Deserto.

Tampa e Crush, do alto de seu bam bam bamrismo, dedicou o resto dos seus dias a um amor platônico pela Última Coca-Cola do Deserto. Justamente porque não conseguia, queria.

E porque não conseguia, cabia junto dela só em sua imaginação.

Em todos os lugares.

Clarice Freire.

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