Trivialidades.

– Será que chove?

– Eu não acredito que você está me perguntando sobre o tempo.

Silêncio.

– Porque esse desprezo por ele?

– Trivialidades.

– Trivialidade? O tempo?

– Sim. Na falta do que dizer, todos falam sobre ele.

– E porque isso o tornaria trivial?

Abrindo o pó de arroz, ela retoca o batom enquanto pensa em uma resposta.

– Porque isso é coisa de quem quer puxar conversa. O que você quer é outra coisa, não é falar sobre o tempo. Porque não vai direto ao assunto?

Ele olha a imagem no espelho do pó de arroz que o encara displicente.

– Então você sabe o que eu quero?

– Sei.

– O que é?

– A mim.

– Eu não acredito que você está falando sobre você.

– Porque esse desprezo?

– Trivialidade.

– Trivialidade? Eu?

– Sim, Na falta do que dizer, você fala de si. Isso a torna trivial. O tempo é mais importante.

– Por quê?

– Um dia você vai sumir por causa do tempo e ninguém vai se lembrar de você. Já do Tempo, todos continuarão falando. Assim como sobre a chuva. Assim como sobre o vento, que passa tão depressa. Quem é mais trivial no fim?

E um dia, ela virou pó enterrado.

No dia seguinte, sai na TV a notícia que espanta o mundo:

“Cidade é devastada por tempestade de areia”.

E até a areia, o vento e a chuva, deixaram de ser trivialidades.

Viram celebridades.

No fim,

Qualquer coisa é trivial.

Se está parado.

Foge do banal,

Até a chuva ou o vento,

Quando está em movimento.

Clarice Freire.

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