Presente Deslocado.

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Olha, eu não sou daqui, nunca fui e acredito que não vou ser nunca, não me adaptei. Me desculpe. Estou indo embora. Não aguento esse lugar estranho, essa gente rara, esses cheiros agridoces. Eu nem sei o que é agridoce, mas você sempre usa essa palavra e eu acho bacana. Bacana. Ninguém fala bacana por aqui. Como as pessoas convivem umas com as outras se não falam “bacana”, “supimpa”, “ué”? Eu também nunca usei essas palavras, mas como não sou daqui e sei que gente daqui não vivia sem essas palavras, não entendo. Que pessoas mutáveis, mutantes, inconstantes essas desse lugar. Já fiz minhas malas e daqui não levo nem a poeira do chão. Nada. Levo só umas memórias confusas, umas lembranças distorcidas, tudo culpa minha, eu sei. Eu que não entendo nada, não entendo nunca, eu não me adaptei.  Vou embora, tchau. Adeus.

Disse o Presente, sempre insatisfeito, meio hiperativo, sempre dramático. Por inbox.

– Fico passado com esse cara. Já cansei de ouvir essa ladainha.

Retrucou o Passado. Assim no passado mesmo. Sentando na cadeira de balanço.

-Lá vem ele de novo.

Entediou-se o Futuro. A essa altura, já estava no passado também. Abriram uma cervejinha, um amendoim que tinham ganhado de presente e riram do tempo.

Clarice.

Só porque o agora sempre é insatisfeito e apressado, mas não precisa perder o bom humor.

Boa sexta pra vocês.

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