Uma Radiola Charmosa.

Vovô Jaime:

Hoje o tempo é gasto na pressa da velocidade da luz, eu sei, minha filha. Do que já foi, restou pouco mais do que meus ternos amassados. Um beijo apaixonado, vem depois de dezenas apresados. Ainda se usa terno? No meu tempo, se falava, ainda, de eterno.

Veja só. Eu sou do tempo dos amantes. Vocês não conversam mais a dois. Se primeiro é o depois, antes do antes.

Eu até entendo que sua rapidez de informação me desarme.

Mas, minha filha, sinceramente.

Cadê o charme?

Clarice Freire.

Cheguei em casa ontem depois de um dia de trabalho e escuto uma coisa diferente. Chego na sala e está Sofia, minha irmã que o que tem de mais nova tem de mais musical do que eu, sentada no chão e fazendo uma luminária pra o quarto dela, escutando Bach. Procurando de onde vinha aquela música com um embalo diferente, toda preguiçosa era a melodia, com um chiado charmoso e vi aquela radiola que minha mãe adora e escutava de tudo enquanto era em quem desenhava no chão, com uns 4 anos de idade. Ela tinha parado de funcionar e agora voltou à vida. Do lado esquerdo tem aquele monte de LP`s maravilhosos (uma coletânea de Chico que ela achou no lixo) e umas reliquias dos Beatles que, claro, ao fim de Bach, pedi pra Sofia colocar. Eu sei que é mais fácil baixar tudo na internet e que mil LP`s cabem no seu celular hoje em dia. Mas, de novo, cadê o charme?

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