A história de Djalma.

Um pequeno tumulto se formou na esquina. Pessoas apontavam, outras se esticavam, todas cochichavam o ocorrido.

– O que foi que eu perdi? – perguntou Djalma.

– Onde você estava?Você perdeu!

– O quê?! – curioso como ele, Djalma já estava desesperado.

– Ah, cara, melhor eu nem te dizer.

– Dizer o quê? Eu já tô ficando nervoso!

Todo mundo sabia que Djama era fraco do coração. Por precaução, seu amigo calou-se imediatamente. Melhor calar. Tudo pela saúde de Djalma.

– Nada não, Djalma. Calma, relaxe. Por que você não se senta?

A essa altura Djalma já procurava desesperadamente indícios de tragédia. Tia Guida, coitada! Não, mas essa já partiu faz tempo. A casa, o cachorro, o fogão…o ferro! Sabia que tinha esquecido o ferro ligado! a essa altura já perdera tudo que tinha e seus amigos o preparavam para o choque. Totó! Ele gostava tanto de Totó!

– Podem me dizer, eu já sei.Disse Djalma resignado.

– Já sabe?

Todos se entreolham nervosos. Se Djalma souber pode ter um piripaque alí mesmo. É melhor enganar por enquanto. Ganhar tempo.

– Não, Djalma, não é o que você tá pensando não.

– Não?!

Djalma busca uma segunda opção de tragédia.

Perdeu o emprego. Só pode ser. Bem que ele achou aquela frase do seu chefe muito enigmática no fim do dia “A gente se vê amanhã”. Quanta ironia. Quanta cara de pau. Nojento, safado. Ah, mas ele me paga. Está pensando que é assim? Oito anos de dedicação ao escritório e é assim que agradecem? Não. Não é assim que se trata Djalma. Não quando ele trabalha de sobreaviso. Não quando tem amigos como os dele que o avisaram com antecedência. Amanhã mesmo ia chegar com seu discurso preparado para seu chefe. Ah, ele ia ouvir, ia ouvir poucas e boas.

Mas por que esperar? Quem ia fazer uma surpresinha agora era ele. Djalma. Ia dizer tudo que estava entalado todos esses anos. E ia ser agora, no fim do expediente, na hora do tchalzinho. Agora mesmo.

Djalma se levanta decidido. Agradece a amizade e cuidado dos amigos e segue direto para o escritório. Ainda bem que seus amigos o avisaram antes.

Os amigos ficam aliviados.

-Gente boa, o Djalma. Compreende nosso cuidado com a saúde dele, coitado. Todo mundo sabe que é fraco do coração.

A multidão se dispersa e o gato atropelado espera o caminhão de lixo no fim da noite.

Um motoqueiro desligado jogou o pobre felino pelos ares, formou até platéia de gente curiosa com o miado desesperado do gato em seu último suspiro de vida, restando apenas seu cadáver inerte no chão.

Era realmente uma cena muito forte para o coração fraco de Djalma.

Longe dalí, Djama entra no escritório.

Clarice Freire.

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