Chaveiro.

–        Como, menina?

–        Eu já disse. O senhor entendeu. Eu pago bem.

–        Mas eu não entendi.

–        Como não entendeu? É o melhor chaveiro da cidade. Eu já disse que posso pagar. Eu quero uma chave com cópia extra para o meu coração, por favor.

O homem viu que tinha entendido certo e parou.  Resolveu entrar na loucura de menina e divertir-se. Essas coisas que quebram a monotonia do centrão da cidade. Aquele calorão fazia dessas coisas. E ele que pensava já ter visto de tudo nessa vida. Enxugou os dedos sujos pensando no cigarro que o esperava no bolso.

–        E como eu chego lá?

–        Olhe pra mim.

O senhor olha agora um tanto cauteloso nos olhos da menina que o encara seriamente.

–        Está vendo? Meu problema é grave. Me desculpe, o senhor vai ter muito trabalho.

–        Hum. Estou vendo. É. Ele realmente é enorme, precisaria de uma chave compatível. Quão trancado ele está?

–        Totalmente.

–        E a outra chave, aonde está?

–        Eu perdi.

–        Não se preocupe.

–        Como assim?

O senhor pegou um papel rabiscou algo que a menina não conseguia ver.

–        Tome.

 

–        Arranje um desses na rua ou no céu. Um coração só se abre com Outro.

Clarice Freire.

Rabisco: aquele bloquinho de papel. tá acabando.

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